O
que é discalculia?
Conforme Araujo (2006, [s.p]) “A palavra
discalculia vem do grego (dis, mal) e do latin (calculare, contar) formando:
contando mal. Essa palavra por calculare vem, por sua vez, de cálculo, que
significa o seixo ou um dos contadores em um ábaco”.
A discalculia é um distúrbio que dificulta a
aprendizagem, pois impede que o indivíduo compreenda os processos matemáticos,
mesmo que ela tenha um QI normal ou acima do normal.
De acordo com Belleboni (apud: GARCIA, 1998), a
discalculia é uma dificuldade de aprendizagem evolutiva, que não causa lesão e
que não é causada por nenhuma deficiência mental, défictis auditivos e nem pela
má escolarização.
As crianças que apresentam esse tipo de dificuldade
realmente não conseguem entender o que está sendo pedido nos problemas
propostos pela professora. Não conseguem descobrir a operação pedida no
problema: somar, diminuir, multiplicar ou dividir. Além disso, é muito difícil
para elas entenderem as relações de quantidade, ordem, espaço, distância e
tamanho. E isso algumas vezes é entendido pelos pais e professores como
preguiça.
A criança não se interessa pela atividade pelo
simples fato de não compreendê-la. “A discalculia apresenta-se como uma
imaturidade das funções neurológicas ou uma disfunção sem lesão.” (BOMBONATTO,
2006, [s.p])
Os
sinais da discalculia.
Os sinais da discalculia podem começar quando a
criança inicia sua vida escolar na pré-escola.Outras criança começam a
apresentar dificuldades um pouco mais tarde.Mas como podemos reconhecer
discalculia no dia-a-dia da criança ou do adulto? Para determinar se uma
criança ou adulto tem discalculia é necessária uma avaliação rigorosa de um
psicologo ou médico. Depois de diagnosticada a dificuldade, a ajuda de um
psicopedagogo é muito importante.A lista de dificuldades exposta abaixo, não
deve ser considerada como completa, mas mostra os exemplos mais comuns de
dificuldades especificas da matemática que caracterizam a discalculia. Porém,
se uma pessoa manifesta a maioria dos problemas relacionados na listagem, isso
indica que a pessoa apresenta dificuldades gerais em matemática , e não,
discalculia.
Discalcúlicos
Famosos
Quem disse que o discalcúlico não é uma pessoa
capaz? Aqui temos alguns exemplos de pessoas com discaculia e que trouxeram
para o mundo contribuições fantásticas.
- Benjamin Franklin: Inventor do pára-raios,
aquecedor de Franklin e das lentes bifocais. Ele também deixou a escola aos 12
anos de idade, pois "falhava" em matemática. Ele é o "homem na
nota de 100 dólares"
- Thomas Edison: Entre suas contribuições estão:
lâmpada elétrica incandescente, o gramofone, o ditafone, o microfone entre
outros. Ele saiu da escola aos 12 anos de idade, pois se achava
"estupido".
- Hans Christian Andersen: Escritor dinamarquês de
clássicos da literatura infantil, tais como, O Patinho Feio, Os Sapatinhos
Vermelhos, O Soldadinho de Chumbo, A Pequena Sereia, dentre outros. Graduado na
High School aos 23 anos de idade.
- Albert Eisntein: Propôs a Teoria da Relatividade
e foi ganhador do Prêmio Nobel da Física de 1921.
- Cher: Atriz, cantora e produtora americana.
- Mary Tyler Moore: Atriz e comediante americana.
Os
subtipos de discalculia
Segundo Garcia (1998, p. 213) a discalculia é
classificada em seis subtipos, podendo ocorrer em combinações diferentes e com
outros transtornos de aprendizagem:
Discalculia Verbal - dificuldade para nomear as
quantidades matemáticas, os números, os termos, os símbolos e as relações.
Discalculia Practognóstica - dificuldade para
enumerar, comparar e manipular objetos reais ou em imagens matematicamente.
Discalculia Léxica - Dificuldades na leitura de
simbolos matemáticos.
Discalculia Gráfica - Dificuldades na escrita de
símbolos matemáticos.
Discalculia Ideognóstica – Dificuldades em fazer
operações mentais e na compreensão de conceitos matemáticos.
Discalculia Operacional - Dificuldades na execução
de operações e cálculos numéricos.
Texto extraído do Manual de Dificuldades de
Aprendizagem - Jesus Nicasio Garcia - Ed. Artmed
Efeitos
das Dificuldades de Aprendizagem da Matemática
Os efeitos das dificuldades de aprendizagem da
matemática geralmente são diversos e vão além da área acadêmica especifica,
afetando áreas como a atenção, a impulsividade, a perseverança, a linguagem, a
leitura e a escrita.
Área de
dificuldade: Atenção seletiva
Amostra de
condutas
Parece não conseguí-lo.
Distraí-se com estímulos irrelevantes.
Conexões e desconexões.
Fadiga-se facilmente quando tenta concentrar-se.
Área de
dificuldade: Impulsividade
Amostra de
Condutas
Buscas curtas.
Trabalha rápido demais e por isso, comete erros por
descuidos.
Não usa estratégias de planejamento.
Frusta-se facilmente.
Ainda que se conceitualize bem, é impaciente com
detalhes.
Cálculos imprecisos.
Desatenção ou omissão de símbolos.
Área de
dificuldade: Perseveração
Amostra de
condutas
Tem dificuldade em mudar de uma operação ou um
passo para outro.
Área de
dificuldade: Inconsistência
Amostra de
condutas
Resolve os problemas em um dia, mas no outro não.
É capaz de grande esforço, quando motivado.
Área de
dificuldade: Automatização
Amostra de
conduta
Não examina o trabalho.
Não pode indicar as áreas de dificuldade.
Não revisa previamente as provas.
Área de
dificuldade: Linguagem/Leitura
Amostra de
conduta
Tem dificuldades na aquisição do vocabulário
matemático. Confunde dividido por/dividido entre; centena/centésimos; MMC/MDC;
4 menos X/ 4 menos X; antes/depois; mais/menos.
A linguagem oral ou escrita se processa lentamente.
Não pode nomear ou descrever tópicos.
Tem dificuldade em decodificar símbolos
matemáticos.
Área de dificuldade:
Organização espacial
Amostra de
conduta
Tem dificuldade na organização do trabalho ba
página.
Não sabe sobre qual parte do problema centrar-se.
Tem dificuldades representando pontos.
Perde as coisas.
Tem dificuldades para organizar o caderno de
anotações.
Tem pouco sentido de orientação.
Área de
diculdade: Habilidades grafomotoras
Área de
condutas
Formas pobres do números, das letras e dos ângulos.
Alinhamento dos números inapropriados.
Copia incorretamente.
Necessita de mais tempo para complentar um
trabalho.
Não pode escutar enquanto escreve.
Trabalha mais corretamente no quadro-negro do que no
papel.
Escreve letra de forma em vez de letra cursiva.
Produz trabalhos sujos, com rasura, em vez de
apagar.
Tem ineficaz domínio do lápis.
Escreve com os olhos muito próximos ao papel.
Área de
dificuldade: Memória
Amostra de
condutas
Não memoriza a tabuada de multiplicar.
Apresenta ansiedade frente a testes.
Ausência do uso de estratégias para o armazenamento
de informações.
Pode recordar apenas um ou dois passos de cada vez.
Parte números ou letras.
Inverte seqüência de números ou letras.
Tem dificuldade para recordar seqüências de
algorítmos, estações e meses, etc.
Área de
difilculdade: Orientação no tempo
Amostra de
condutas
Tem dificuldades em trabalhar com as hora.
Esquece ordem das aulas.
Chega muito cedo ou muito tarde à aula.
Tem dificuldades em ler o relógio analógico.
Área de
dificuldade: Auto-estima
Amostra de
condutas
Acredita que nem o maior esforço irá levá-lo ao
êxito.
Nega a dificuldade.
É muito sensível a críticas.
Opõe-se ou rechaça ajuda.
Área de
dificuldade:Habilidades sociais
Amostra de
condutas
Não capta os códigos sociais.
É amplamente dependente.
Não adapta a conversação de acordo com a situação
ou com audiência.
Texto extraido do livro: Manual de Dificuldades de
Aprendizagem - Jesus Nicasio Garcia - Ed. Artmed. pg: 224 e 225.
.
Dificuldades com leitura e compreensão
-Confusão com o aspecto parecido dos números, 6 e 9
ou 3 e 8.
-Falta de habilidade para compreender os espaços
entre os números como por exemplo: 5 69 é lido como quinhentos e sesseta e
nove.
-Dificuldades no reconhecimento, e portanto, no uso
dos símbolos para calcular: mais, menos, multiplicação e divisão.
-Dificuldades na leitura de numeros com mais de um
dígito. Números com zero podem especialmente dificultar. Exemplo: 4002 ou 304.
-Confusão na leitura da direção dos números: o 12
pode se tornar 21. Não é usual para algumas crianças mudarem a direção de
alguns números que são lidos precisamente, da esquerda para direita, enquanto
outras lêem de trás para frente.
-Problemas com leitura de mapas, diagramas e
tabuada.
-Dificuldades com a escrita números e símbolos, com
freqüência os números são revertidos.
-Problemas com cópias de números, cálculos e
ilustração de figuras geométricas.
-Problemas em lembrar números, cálculos e memorizar
a forma das figuras geométricas.
-Dificuldades de lembrar como os números e as
operações são escritas. Nesse caso, pode ser mais fácil para o aluno escrever
os números com letras.
-Dificuldades de lembrar como os símbolos
matemáticas são escritos.
-Dificuldades na escritas de números com mais de um
dígito. O zero pode não aparecer na hora da escrita, por exemplo: mil cento e
sete pode ser escrito 107; dezessete pode ser escrito como 71 ou ainda, quatro
mil quinhentos e trinta e cinco ser escrito em quatro diferente números(o
número pode ser dividdo em partes): 4000, 5000, 30, 5.
-Dificuldades em entender conceitos e símbolos
-Dificuldades em entender os símbolos matemáticos e
dificuldade em lembrar como deve ser usado, por exemplo, o sinal de menos.
-Problemas com o entendimento de conceitos de peso,
espaço, direção e tempo.
-Problemas para entender perguntas orais ou
escritas que são apresentadas com palavras, texto ou figuras.
-Problemas para entender conceito de soma, onde
números são usados em conjunto com unidades como, por exemplo, 100 metros. Os
problemas também podem ser no entendimento dos números ordinais, pois não
entendem a seqüência, primeiro, segundo terceiro, etc.
-Problemas em entender as relações entre as
unidades.
-Problemas na aplicação prática da matemática, por
exemplo: A distância da casa de Ana até a escola é de 1 km. Maria mora duas
vezes mais longe. Qual a distancia que Maria tem que percorrer para chegar à
escola?
-Problemas com a seqüência dos números e fatos
matemáticos
-Dificuldades em entender a posição dos números,
maior ou menor. Exemplo: 16 vem antes ou depois de 17.
-Problemas com a seqüência dos números, a criança
não entende automaticamente que 74 é 5 unidades a mais que 69, ou é incapaz de
saber o lugar dos números 8 ou 27 na série numérica. Essas crianças tem que
contar nos dedos para fazer um cálculo básico. Não conseguem memorizar a
tabuada de multiplicação.
-Dificuldades em fazer cálculos mentais, devido a
problemas de memória que faz com que o aluno perca números importantes usados
na no cálculo.Problemas com contagem de trás para frente.Levam muito tempo para
resolver tarefas simples.
-Problemas com pensamentos complexos.
-Dificuldades de escrever um pensamento, mostrando
falta de habilidade para demostrar a estratégia na resolução de problemas ou
como as estratégias podem se mudadas.
-Problemas em compreender os diferentes de passos
em uma tarefa matemática.
-Dificuldades em abstrair dados em uma tarefa
matemática e como proceder para resolvê-la.
Outras dificuldades
-Dificuldades com conceitos semelhantes de passado
e futuro.
-Dificuldades em avaliar tarefas ou atividades que
devem ser cumpridas.
-Fraca orientação espacial ou habilidades de
resolver problemas espacias, mostrando ter limitado senso de direção ou tendo dificuldades
de se ajustar a novos ambientes. Exemplo: Um novo trajeto para se chegar a
escola.
-Variações de atenção e dificuldades de
concentração.
-Memória limitada para nomes e rostos.Dificuldades
em administrar dinheiro.
-Dificuldades em ler as horas.
-Dificuldades em processar informações apresentadas
rapidamente e também distinguir o que é importante.
-Dificuldades com jogos que envolvam estratégia.
Exemplo: xadrez.
O caso de
Lisa.
Lisa não tem dificuldades com a matemática básica.
Ela é muito boa em multiplicação e divisão. Apesar disso, contudo, ela tem
dificuldades com a resolução de problemas matemáticos escritos. Ela
frequentemente os erra. Em um exame geral de habilidade na leitura e
compreensão ela mostrou que tem uma performance regular em ambos, lendo e
escrevendo. Uma análise mais profunda em seu problema mostra claramente que ela
tem dificuldades com a identificação de fatos básico no texto. Ela simplesmente
não vê claramente que os números são relevantes para a tarefa matemática. Ela
não sabe qual é o tipo de operação deve ser feita. Se é adição ou subtração.
O que aparenta é que a principal dificuldade de
Lisa é com o planejamento, e que ela precisa de ajuda para encontrar boas
estratégias para guiar as tarefas matemáticas. Eal precisa praticar um plano
para resolver as tarefas matemáticas passo-a-passo em uma sequência contínua.
Um professor ou uma pessoa que não tiver
conhecimento da discalculia, com certeza achará que essas dificuldades com a
escrita das tarefas matemáticas podem que ser sanadas com exercícios para
melhorar a leitura. Contudo, uma análise mais profunda, mostra que a
dificuldade dela não está totalmente relacionada com problemas primários de
leitura e isso demanda uma abordagem diferente na forma em como esses
exercícios serão dados.
Texto traduzido do livro: What is dyscalculia? Dr
B. Adler, 2001, pg 14 - 17.
Fatores
que contribuem para as Dificuldades de Aprendizagem da Matemática
A suposição é que as causas das dificuldades de
aprendizagem tenham bases biológicas, mas é o ambiente que fará com que essas
dificuldades aumentem ou diminuam. Os fatores biológicos que contribuem para a
ocorrência de uma dificuldade de aprendizagem podem ser divididos em quatro
categorias:
Lesão Cerebral – nem sempre uma lesão cerebral é a
base para que a criança tenha uma dificuldade de aprendizagem, mas algumas
dificuldades podem surgir de uma lesão cerebral;
Alterações Desenvolvimentais – durante a gestação o
sistema nervoso do novo indivíduo vai se desenvolvendo em etapas e esse
desenvolvimento continua após o seu nascimento. Esse desenvolvimento é o que
faz capaz de realizar tarefas que conforme o individuo vai crescendo se tornam
mais complexas. Quando alguma etapa desse desenvolvimento é alterada, isso pode
gerar uma dificuldade de aprendizagem.
Desequilíbrio Químicos– os neurotransmissores fazem
a comunicação entre as células cerebrais. Qualquer alteração química pode fazer
com que essa comunicação falhe. Esses desequilíbrios podem contribuir para
alguns transtornos de aprendizagem, principalmente os que envolvem atenção,
como o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade e hipoatividade.
Hereditariedade – a hereditariedade também
determina o desenvolvimento de dificuldade de aprendizagem. Segundo Smith e
Strick (2001, p. 15), as dificuldades de aprendizagem levam as crianças a ter
um comportamento que complicam mais essas dificuldades na escola, sendo eles:
hiperatividade, fraco alcance de atenção, dificuldade para seguir instruções,
imaturidade social, dificuldade com a conversação, inflexibilidade, fraco
planejamento e habilidades organizacionais, distração, falta de destreza, falta
de controle de impulsos. Esse comportamento se dá nas mesmas condições
neurológicas das dificuldades de aprendizagem.
A
importância em diagnosticar a discalculia
Há uma urgência grande para se descobrir cada vez
mais cedo a discalculia nas crianças. Um diagnóstico completo não pode ser
feito antes dos 10-12 anos de idade, mas por causa disso não devemos deixar de
tentar descobrir as formas particulares de dificuldades que matemáticas a
criança sofre.
Há um debate em andamento a respeito dos
diagnósticos de dislexia, de discalculia, ou do transtorno de déficit de
atenção/hiperatividade se eles têm algum valor real. Esta preocupação tem
fundamento, porque pode ser prejudicial diagnosticar todos as de dificuldades
matemáticas como discalculia, e do mesmo modo todas as dificuldades com
concentração como transtorno de déficit de atenção/hiperatividade . Entretanto,
a dúvida não deve conduzir à recusa para fazer um diagnóstico específico. Nós
corremos então no risco óbvio de não fornecer a ajuda relevante às crianças que
estão certamente dentro necessidade dela.
Existem crianças e adolescentes que têm
dificuldades matemáticas, ou dificuldades com leitura, e gradualmente adquirem
uma imagem muito negativa de si mesmos. Sua autoestima e confiança são
quebrados. Alguns expressam até pensamentos suicidas. Estas crianças devem ser
a razão de se justificar a necessidade para diagnósticos exatos e específicos.
Um diagnóstico exato afeta diversos indivíduos e grupos positivamente:
a criança;
os pais;
os professores;
os psicólogos e médicos;
a sociedade.
É extremamente raro encontrarmos com uma criança no
inicio de sua vida escolar que peça para ser examinada por estar com
dificuldades de matemática. Entretanto, os mais velhos o fazem, porque
continuam a "falhar" na matemática, e querem saber o
porque:"Qual é a razão real para minhas dificuldades em matemáticas? Como
posso ser bom em muitos outros assuntos e não na matemática?” Essa situação
torna-se frustrante e incompreensível. Um diagnóstico permite que a maioria de
crianças mais velhas compreendam a razão para suas dificuldades. Isto ajuda
também aos pais a procurar uma especializada que possa fornecer recursos
corretivos apropriados. [O governo deveria oferecer isso].
Para professores e psicólogos escolares o
diagnóstico é valioso porque os permite planejar o trabalho corretivo exato,
melhorando sucesso das lições. O diagnóstico indica formalmente os tipos de
recursos que devem ser utilizados para a dificuldade.
Às vezes os professores expressam preocupações
sobre um diagnóstico. Ficam receosos que a criança irá relaxar no seu
aprendizadoe parar de tentar trabalhar ativamente com a matemática, pensando:
“Bem, eu tenho o discalculia! Então eu não posso fazer os exercícios de
matemática de qualquer maneira!” As dúvidas dispersam-se geralmente uma vez que
o professor começa um diálogo com a criança e seus pais. Com um bom diálogo as
dificuldades da criança são feitas óbvias, mostrando as maneiras possíveis
trabalhar com matemática, garantindo assim, que a criança receba o tratamento
apropriado. Ao mesmo tempo é eliminado o risco de que ela desenvolva sintomas
psiquiátricos como o depressão e pensamentos suicidas.
Um diagnóstico é de grande importância às escolas e
a sociedade em geral. Os responsáveis pelas decisões e os líderes de comunidade
necessitam saber que o grupo de pessoas com discalculia é grande. Este
conhecimento é atualmente muito deficiente. O que os responsáveis pelas
decisões ou um líder sabem é que muito muitos estudantes estão falhando na
matemática, uma proporção muito maior do que aqueles que têm dificuldades com
línguas. Isto nos chama para a examinar a situação. Se formos relutantes fazer
um diagnóstico então estaremos impedindo que as crianças tenham o direito de
ser ajudadas.
Foi mencionado acima que um diagnóstico final
(completo) não pode ser feito antes que a criança esteja aproximadamente 10-12
anos de idade. Entretanto, isto não deve nos fazer parar com o trabalho
corretivo apropriado antes dessa idade. Sobretudo temos que aprender a nos
comunicarmos abertamente com a criança sobre suas dificuldades e experiências.
Os problemas que relatam não podem ser os mesmos que suas próprias percepções
de seus problemas. Embora nós não possamos estar certos sobre a natureza exata
de suas dificuldades, é necessário começar imediatamente o trabalho corretivo.
Se nós esperarmos até que a criança esteja velha o bastante para um diagnóstico
apropriado, nós podemos ter desperdiçado o tempo precioso e ter causado à
criança muitos anos desnecessários do esforço e da falha. A ajuda é necessária.
Texto traduzido e adaptado do livro: What is
dyscalculia? Dr B. Adler, 2001, pg 23 - 25.
O
diagnóstico da discalculia: CID-10 e DSM-IV
Discalculia não é uma doença. Nem é necessariamente
uma condição crônica. Nosso corpo e mente dão forma a um equilíbrio dinâmico
que esta constantemente em mudança se adaptando às novas situações. As
habilidades cognitivas de um estudante podem progredir além de seu diagnóstico
original. Os estudantes podem ter uma vida normal fora das dificuldades
matemáticas específicas, embora os problemas frequentemente tendam a remanescer
com eles na vida adulta. É importante compreender que as avaliações são somente
válidas por um tempo relativamente curto, um ano para crianças e adolescente e
menos de dois anos para adultos.
Fazer um diagnóstico é um conceito médico. Durante
muitos anos, a ciência médica construiu um modelo biológico para compreensão
progressiva dos diferentes transtornos. Este modelo permite desenvolver
sistemas de classificação worldwide estandardizados para doenças. Hoje há dois
sistemas predominantes.
O CID-10 (Classificação Estatística Internacional
de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde) é uma classificação
estatística internacional das doenças, dos ferimentos e das causas da morte que
é publicado pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Seu alvo é criar uma
fundação padrão e estável universal para o desenvolvimento da ciência médica.
Devido as críticas recebidas pelo sistema CID, a
Associação Americana dos Psiquiatras, (APA), desenvolveu o alternativo DSM
(Manual de Diagnóstico e Estatística das Perturbações Mentais). Um dos
objetivos principais do DSM é fornecer uma descrição exata de todos os sintomas
médicos de modo que seja consultado por doutores ou profissionais de saúde para
que possam fazer um diagnóstico correto.
Observação: Antes que um diagnóstico positivo da
discalculia seja feito, causas tais como o ensino inadequado ou incorreto, os
problemas com visão, audição ou os danos ou doenças neurológicas e doenças
psiquiátricas devem ser eliminadas.
CID-10 : F81.2 TRANSTORNO ESPECÍFICO DA HABILIDADE
EM ARITMÉTICA
Transtorno que implica uma alteração específica da
habilidade em aritmética, não atribuível exclusivamente a um retardo mental
global ou à escolarização inadequada.
O déficit concerne ao domínio de habilidades computacionais
básicas de adição, subtração, multiplicação e divisão mais do que as
habilidades matemáticas abstratas envolvidas na álgebra, trigonometria,
geometria ou cálculo.
Inclui:
Acalculia de desenvolvimento .
Discalculia.
Síndrome de Gerstmann de desenvolvimento .
Transtorno de desenvolvimento do tipo acalculia
Exclui:
acalculia SOE.
dificuldades aritméticas:
associadas a um transtorno da leitura ou da
soletração .
devidas a ensino inadequado
DSM -IV : F81.2 - 315.1 TRANSTORNO DA MATEMÁTICA
Características Diagnósticas
A característica essencial do Transtorno da
Matemática consiste em uma capacidade para a realização de operações
aritméticas (medida por testes padronizados, individualmente administrados, de
cálculo e raciocínio matemático) acentuadamente abaixo da esperada para a idade
cronológica, a inteligência medida e a escolaridade do indivíduo (Critério A).
A perturbação na matemática interfere
significativamente no rendimento escolar ou em atividades da vida diária que
exigem habilidades matemáticas (Critério B). Em presença de um déficit
sensorial, as dificuldades na capacidade matemática excedem aquelas geralmente
a este associadas (Critério C).
Caso esteja presente uma condição neurológica,
outra condição médica geral ou déficit sensorial, isto deve ser codificado no
Eixo III. Diferentes habilidades podem estar prejudicadas no Transtorno da
Matemática, incluindo habilidades "lingüísticas" (por ex.,
compreender ou nomear termos, operações ou conceitos matemáticos e transpor
problemas escritos em símbolos matemáticos), habilidades
"perceptuais" (por ex,. reconhecer ou ler símbolos numéricos ou
aritméticos e agrupar objetos em conjuntos), habilidades de "atenção"
(por ex., copiar corretamente números ou cifras, lembrar de somar os números
"levados" e observar sinais de operações) e habilidades
"matemáticas" (por ex., seguir seqüências de etapas matemáticas,
contar objetos e aprender tabuadas de multiplicação).
Características e Transtornos Associados
Consultar a seção "Características e
Transtornos Associados" referente aos Transtornos da Aprendizagem. O
Transtorno da Matemática em geral é encontrado em combinação com o Transtorno
da Leitura ou o Transtorno da Expressão Escrita.
Prevalência
A prevalência do Transtorno da Matemática é difícil
de estabelecer, uma vez que muitos estudos se concentram na prevalência dos
Transtornos da Aprendizagem, sem o cuidado de separar transtornos específicos
da Leitura, Matemática ou Expressão Escrita.
A prevalência do Transtorno da Matemática isoladamente
(isto é, quando não encontrado em associação com outros Transtornos da
Aprendizagem) é estimada como sendo de aproximadamente um em cada cinco casos
de Transtorno da Aprendizagem. Estima-se que 1% das crianças em idade escolar
têm Transtorno da Matemática.
Curso
Embora os sintomas de dificuldade na matemática
(por ex., confusão para conceitos numéricos ou incapacidade de contar
corretamente) possam aparecer já na pré-escola ou primeira série, o Transtorno
da Matemática raramente é diagnosticado antes do final da primeira série, uma
vez que ainda não ocorreu suficiente instrução formal em matemática até este
ponto na maioria dos contextos escolares.
O transtorno em geral torna-se visível durante a
segunda ou terceira série. Particularmente quando o Transtorno da Matemática
está associado com alto QI, a criança pode ser capaz de funcionar no mesmo
nível ou quase no mesmo nível que seus colegas da mesma série, podendo o
Transtorno da Matemática não ser percebido até a quinta série ou depois desta.
Diagnóstico Diferencial
Consultar a seção "Diagnóstico
Diferencial" relativa aos Transtornos da Aprendizagem.
Critérios CID-10/DSM-IV
Critérios Diagnósticos para F81.2 - 315.1
Transtorno da Matemática
A. A capacidade matemática, medida por testes
padronizados, individualmente administrados, está acentuadamente abaixo do
nível esperado, considerando a idade cronológica, a inteligência medida e a
escolaridade apropriada à idade do indivíduo.
B. A perturbação no Critério A interfere
significativamente no rendimento escolar ou atividades da vida diária que
exigem habilidades em matemática.
C. Em presença de um déficit sensorial, as
dificuldades na capacidade matemática excedem aquelas geralmente a este
associadas.
Nota para a codificação: Caso esteja presente uma
condição médica geral (por ex., neurológica) ou déficit sensorial, codificar no
Eixo III.
Traduzido e adaptado do livro What is dyscalculia?
Dr B. Adler, 2001, pg. 64 e 65.
A
discalculia pode ser curada?
Os pais, assim como os professores têm importantes
questões sobre discalculia. As perguntas mais freqüentes são:
Que tipo de dificuldades a dislcalculia se refere?
Será que fiz algo de errado?
Que tipo de ajuda é necessária?
A discalculia pode ser curada?
É importante que estas questões sejam respondidas
na fase inicial, para se evitar ansiedade desnecessária.
Obviamente, os pais querem saber qual o tipo de
dificuldades a criança tem. Eles muitas vezes perguntam ao profissional se ele
conhece determinado tipo de dificuldade: Você já conheceu outras crianças com
problemas semelhantes? Se o profissional ainda não tratou crianças com
determinado tipo de dificuldades, os pais devem ser informados. O importante
que se conheça a dificuldade de aprendizagem e formas de tratamentos estudados.
Muitos pais se sentem culpados. Acham ter feito
alguma coisa errada, ou talvez por não ter feito o suficiente. Isso não deve
ser encarado dessa forma. A criança precisa dos pais para se sentir segura e
conseguir e seguir o tratamento com sucesso.
A discalculia pode ser curada? A resposta simples é
sim! O diagnóstico discalculia é sempre apenas uma descrição do atual estágio
de desenvolvimento, aplicável por um período máximo de um ano. Como a criança
desenvolve, as dificuldades que existiam no ano anterior podem ter minimizado
ou quase desaparecem.
Se a criança está recebendo tratamento adequado, a
possibilidade de desenvolvimento da capacidade matemática é grande. No entanto,
muitas vezes algumas partes das dificuldades permanecem de uma forma suave, por
exemplo, as dificuldades em recordar fatos numéricos. É habitual que os
estudantes irão continuar a ter características destas dificuldades, de uma
forma suave, em toda a vida adulta. Capacidade de concentração, no entanto,
geralmente melhora consideravelmente, e que muitas vezes vem com a compreensão
de conceitos matemáticos e símbolos.
Traduzido e adaptado do livro What is dyscalculia?
Dr B. Adler, 2001, pg. 27
Desenvolvimento
das Habilidades da Matemática
Essas são as habilidades que deverão ser
desenvolvidas quando as criança estiver na série citada.
O que devemos saber é que o desenvolvimento de
habilidades acontece de forma diferente em cada indivíduo. Algumas crianças
conseguem seguir de forma correta esse padrão e outras não.
É quando acontece um atraso muito grande no
desenvolvimento dessas habilidade que devemos ficar alerta e procurar um médico
para que seja avaliada e diagnóstica uma possível Dificuldade de Aprendizagem
da Matemática.
Pré-Escola
Combina/seleciona/nomeia objetos por cor, tamanho e
forma; conta/soma até nove objetos; avalia objetos por quantidade, dimensões,
tamanho (p. ex., mais/menos, mais longo/menor, mais alto/mais baixo,
maior/menor/igual; recita e reconhece numeros de 1-20; escreve números de 1-10;
compreende conceitos de adição e subtração; conhece símbolos +, -, =: reconhece
o todo X metade; compreende os ordinais (primeiro, quinto); aprende conceitos
incipentes de peso, tempo (p. ex., antes/depois; compreende que o almoço é às
12 horas; diz a hora no relógio), dinheiro (sabe o valor de algumas moedas) e
temperatura (mais quente/mais frio); tem consciência de localização (p. ex., acima/abaixo,
esquerda/direita, mais próximo/mais distante); interpreta mapas simples e
gráficos.
Primeira Série
Conta/lê/escreve/ordena número até 99; começa a
aprender fatos da adição e subtração; realiza problemas simples de
adição/subtração (p. ex., 23 + 11); compreende multiplicação como sendo a
adição repetida; conta de 2 em 2, de 5 em 5 e de 10 em 10; identifica números
pares e ímpares; estima respostas; compreende 1/2, 1/3, 1/4; obtém conhecimento
elementar do calendário (p. ex., conta quantos dias dias até seu aniversário),
tempo (diz a hora em termos de meia hora; compreende horários, lê relógio
digital), medidas (uma xícara, uma colher de chá, um litro, cm, kg) e dinheiro
(sabe o valor de agumas moedas; compara preços); soluciona problemas verbais
simples com números; lê gráficos e mapas.
Segunda Série
Identifica/escreve números até 999; soma/subtrai
números com dois e três dígitos com e sem reagrupamento (p. ex., 223 + 88, 124
- 16); multiplica por 2, 3, 4, 5; conta de 3 em 3, de 5 em 5, de 10 em 10 e de
100 eme 100; lê/escreve numerais roamnos até XII; conta dinheiro e faz troco
até 10 reais; reconhece dias da semana, meses, estações do ano no calendário;
diz a hora em termos de 5 minutos em um relógio com ponteiros; aprende medidas
básicas (centímetros, metros, gramas, quilograma); reconhece equivalentes
(p.ex., dois quartos = metade, quatro quartos = um inteiro); divide área em
2/3, 3/4, décimos; faz graficos com dados simples.
Terceira Série
Compreende milhares; soma e subtrai números de quatro
dígitos (p.ex., 1 017 - 978); aprende fatos da multiplicação até 9 x 9;
soluciona problemas simples de multiplicação e divisão (642 x ou dividido por
2); relaciona divisão com subtrações repetidas; aprende numerais romanos mais
difíceis; introdução a frações (soma/estima/organiza frações simples;
compreende números mistos); e geometria (identica hexágono, pentágono);
compreende diâmetro, raio, volume, área; compreende decimais, começa aprender
números negativos, probabilidade, porcentamegem, razão; soluciona problemas
verbais mais difíceis de matemática.
Quarta Série
Soma colunas de três ou mais números; multiplica
números de três dígitos por números de dois dígitos (348 x 34); realiza divisão
simples (44/22); reduz frações a seus menores termos; soma/subtraius frações
com diferentes denominadores (3/4 + 2/3); soma/subtrais decimais, converte
decimais em porcentagens; conta/faz troco para 20 reais; estima a hora; pode
medir o tempo em horas, minutos e segundos; realiza cáculos de áreas de
retângulos; identifica linhas paralelas, perpendiculares e com intersecção;
calcula peso em toneladas, extensão em metros e volume em centímetros cúbicos.
Quinta Série
Multiplica números com três dígitos (962 x 334);
pode realizar problemas mais difíceis de divisão (102 dividido por 32); soma,
subtrai, multiplica números mistos; divide um número inteiro por uma fração;
representa frações como decimais, proporções, percentuais; soma, subtrai,
multiplica com os demais, divide um decimal por um número inteiro; compreende
uso de equações, fórmulas, "trabalhar de trás para frente"; estima produtos
e quocientes; começa aprender sobre expoentes, maior denominador comum, bases,
fatores primos, números compostos, números inteiros; compreende porcentagens,
razões; compreende média, mediana, modo; mede área/circunferência de um
círculo, perímetro/áreas de triângulos e paralelogramos; realiza conversões
métricas; usa compasso, transferidor; lê desenhos em escala.
Ensino Médio
Domina ordem de operações em problemas complexos;
multiplica/divide frações; soma, subtrai, multiplica, divide decimais em termos
milionésimos; converte decimais para fração, percentuais, proporções;
compreende números reais, racionais, irracionais e diferentes bases numéricas,
calcula raízes quadrada e cúbica; estima porcentagens/proporções; calcula
descontos, impostos em liquidações, gorjetas em restaurantes; compreende margem
de lucros, comissão, juros simples, juros compostos, percentual de
aumento/desconto; compreende ângulos (complementares. suplementares,
adjacentes, receptores, congruentes...); calcula volume de cilindro; calcular
arco do círculo; compreende figuras equilaterais, isósceles, escalenas,
obtusas; organiza conjuntos de dados; coordenadas em gráficos, transformações,
reflexos, rotações, equações com duas variáveis; soluciona equações pela
substtuiição; começa a aprender sobre probabilidade condicional, permutações,
análise fatorial, freqüência relativa, curva normal; teorema de Pitágoras;
aprofunda conhecimento sobre habilidades e conceitos aprendidos anteriormente.
Texto extraído e adaptado do livro: Dificuldades de
Apendizagem de A a Z - Corinne Smith e Lisa Strick, 2001 - Ed Artmed. pg. 316 e
317